Há 2 dias terminei uma das coisas mais loucas e diferentes que já fiz na vida. Um trekking em uma das montanhas do Himalaia no Nepal, vizinha lá do monte Everest. O nome do trekking que fiz foi o Langtang Trekking que durou quase uma semana. Mas aí você me pergunta: o que é um trekking?
Definição de Trekking
O trekking é um esporte aeróbico que consiste em caminhar por uma trilha de um ponto A até um ponto B. O trekking proporciona um contato maior com a natureza, pois suas trilhas geralmente são feitas em florestas e montanhas. Nesse caso, o objetivo é percorrer a pé desde a cidade inicial até a vila final, mas que fica a muitos metros de altitude.
Distância percorrida e altitude alcançada
Duração – 5 dias (3 pra ir e 2 pra voltar)
Distância percorrida – 38km pra ir e 38km pra voltar
Altitude – de 1503m – 3830m
Video: Trekking Langtang – Himalaias – Nepal
Esse video é apenas um resumo do que foram os dias de trekking por esse lugar incrível que passamos. E se você ainda não se inscreveu no canal do youtube, se inscreve lá. Pretendemos começar a publicar videos com mais frequência e quem é inscrito recebe uma notificação quando um video novo é lançado.
Roteiro dia a dia do Trekking Langtang
Já havia lido um pouco sobre os trekkings no Himalaia. Os mais conhecidos são o do acampamento base do Monte Everest e o do Monte Annapurna. Diversas agências oferecem diversos tipos de pacotes desde os mais básicos, até os all inclusive que inclui todas as refeições, guia, hotéis e um carregador de malas só pra você.
Bom, como não estava com essa grana disponível, resolvi fazer tudo por conta própria. Confesso que deu bastante medo, medo de algo novo e um pouco perigoso. Em nenhum momento contratei um guia local ou um sherpa para carregar minhas malas. Durante vários dias fiquei pensando o que de ruim poderia acontecer comigo estando lá em cima.
Mesmo assim resolvi arriscar. Tudo correu certo e vou contar pra vocês todos os detalhes de como foi esse trekking.
Não vou entrar muito em detalhes sobre como planejar um trekking, quanto custou e como tirar a permissão para trekking, pois são temas para outros posts. Então vamos lá, vou relatar o dia a dia como um diário, que fiz a mão durante a viagem.
Dia 1 – Kathmandu – Syabru Besi
Viagem de ônibus – 06h30 – 15h30
Acordei bem cedo nesse dia e fui até Macha Pokhari, o local de onde saem os ônibus para Syabru Besi. Consegui pegar o primeiro deles, às 06h30. A viagem dura em média 10 horas, mas a distância percorrida não passa dos 100km. Sim, a estrada é bem sinuosa, não tem asfalto na maior parte do tempo e você vai pular a viagem inteira.

Caminho até Syabru Besi
O transporte é um micro ônibus antigo, sem ventilação, mas o calor do Nepal é suportável quando não está sol. Boa parte do caminho é feito em um desfiladeiro, bem perigoso, sem proteção alguma. Prepare-se psicologicamente e fisicamente pra essa parte da viagem.
O ônibus vai parando pela estrada para pessoas descerem e também subirem. Ele faz uma parada para ir ao banheiro e outra para almoçar. O visual fica bem legal um pouco antes de chegar em Syabru Besi, o que rende algumas boas fotos, quando o ônibus não tiver chacoalhando (quase nunca).
Cheguei no começo da tarde em Syabru Besi e já tratei de atravessar o rio que corta a pequena vila. É lá do outro lado que o trekking Langtang começa. Escolhi uma casa de familia para passar a noite. A partir desse ponto não existem mais veículos, o sinal da internet é quase nulo e as coisas começam a ficar mais caras, mas nada que assuste tanto no preço.

Syabru Besi
Aproveitei para lavar a roupa que tinha vindo, pois durante o frio do trekking seria mais difícil de secar. Jantei lá mesmo, na casa dessa familia e tratei de ir dormir cedo, pois o dia seguinte seria pesado. Tomei um banho gelado (ainda era possível) e aproveitei o sol para secar as roupas molhadas.
A partir desse ponto 90% dos banheiros são no estilo asiático – aqueles com um buraco no chão – que você faz suas necessidades agachado.
Dia 2 – Syabru Besi – Lama Hotel
Distância percorrida – 15km
Altitude – 1503m – 2420m
Tempo – 07h20 – 13h20
O dia começou bem cedo. Às 06h00 já estava de pé, tomei um café bem leve (erro meu) e dei início ao trekking. Estava nos planos do primeiro dia subir dos 1503m aos 2420m, bem puxado, principalmente para quem estava fora de preparo (eu) levando uma vida meio que sedentária.
Andei por mais de 2 horas, cruzei 2 pontes, uma primeira vila até fazer uma parada rápida para fotos em uma segunda vila. Nela existia um banho termal natural, mas não experimentei. Acredito que seja bom no retorno do trekking para dar aquela relaxada.
Segui caminho, dessa vez subindo bastante. Ora são degraus, ora são pedras empilhadas. Boa parte do caminho é feito por ladeiras e se engana quem pensa que o caminho apenas sobe. Quando você acha que já está chegando na altitude final do seu roteiro, o caminho começa a descer, para depois começar a subir de novo. Esforço em vão!
Depois de quase 4 horas caminhando resolvi fazer uma parada para almoço e para descansar. Nesse momento eu já estava morrendo de cansaço (acho que to ficando velho).

Cabras
Parei na vila de Bamboo. Você vai perceber o porquê desse nome assim que continuar sua trilha. Essa vila fica a 1970m de altitude, metade do trajeto planejado pro primeiro dia. Pedi um Dal Baht, um prato local composto por arroz, creme de lentilha, legumes refogados, um pão frito nepalês e verduras. Nesse tive a sorte de ganhar até umas batatas fritas.

Bamboo
O legal é que quando você pede esse prato, você tem direito a repetir. O lema dos nepaleses é que você fique de barriga cheia. Ah, esse prato também é o comido pelos sherpas, aqueles carregadores de malas das montanhas. Eles são bem fortes, carregando malas, geladeiras, botijões de gás, tudo nas costas.
Descansei por 1 hora e segui viagem. O caminho não parou de subir. Foi quando olhei o mapa e vi que já tinha percorrido quase 80% da distância do dia, mas que ainda faltava a metade da altitude, ou seja, a coisa ia ficar séria dali pra frente.
Continuei pelas ladeiras e degraus, cruzei uma parte que recentemente teve um deslizamento de terra, mas que já estão arrumando e cruzei uma ponte que estava bem torta. Você vai notar que em algumas partes da trilha existem partes com pedras soltas que rolam. Existem placas alertando para não ficar parado por ali e passar rápido.

Cascata de pedras
São como umas cascatas de pedras, mas fique sossegado, pois você vai cruzar apenas umas 3 dessas pelo caminho. Cheguei na região de Lama Hotel às 13h40, já com chuva caindo.
Dica: tente iniciar o trekking bem cedo. Todos os dias por volta das 13h00 e 14h00 chove.
Logo de chegada já me ofereceram hospedagem grátis. Foi assim durante todo o trekking. Eles não pedem nada em troca disso e não é nenhum golpe, fique sossegado. Aproveitei o restante da tarde para descansar, jantei e fui dormir bem cedo.

Lama hotel

Restaurante
O povo sherpa é um dos mais amigáveis que já conheci. Fui tratado como um membro da familia. Todos pelo caminho cumprimentavam e estavam sempre com um sorriso no rosto. O hotel era bem básico com quarto com 2 camas. Não existe aquecimento nos quartos, apenas no restaurante, esse sendo feito a lenha.
Dia 3 – Lama Hotel – Langtang
Distância percorrida – 15km
Altitude – 2420m – 3430m
Tempo – 07h30 – 14h00
No segundo dia de trekking também acordei por volta das 06h00. Dessa vez tomei um café reforçado. Sanduíche de atum, pão com pasta de amendoim e um café preto foram o menu da manhã.

Mulas

Mulas
A paisagem já começa a mudar a partir desse pontos. Boa parte do caminho é feito por dentro de uma floresta com árvores enormes cobertas de musgo. Parece cenário de filmes como Senhor do Anéis.

Pela floresta
Tive companhia por boa parte do caminho. Diversas mulas cruzaram meu caminho levando suprimentos para as partes mais altas da montanha. Nesse dia caminhei muito e subi mais 1000m.
Algumas cachoeiras pelo caminho e pequenas pontes feitas de troncos de árvore. Também cruzei pequenas vilas e o rio sempre me acompanhando. Não tem como se perder. Há sempre pessoas cruzando seu caminho, sejam elas moradores locais ou turistas praticando o trekking.
Também é fácil saber se está no caminho certo. Há muito coco de mula pelo caminho, não tem erro!
Como no dia anterior, parei para almoçar na metade do caminho, no que sobrou da vila de Ghoda Tabela. Digo isso pois o terremoto de 2015 destruiu praticamente tudo dessa vila. O trekking de Langtang foi o mais afetado pelo terremoto.
Ghoda Tabela fica a 3008m de altitude. Como de costume almocei e descansei por uma hora antes de continuar o trekking. O menu foi o mesmo, o Dal Bhat.
Na segunda parte do trajeto, muita vegetação foi desaparecendo, tornando o terreno só de terra, pedras e as montanhas ao fundo. Os 2 primeiros dias de trekking foram de muita nuvem e não foi possível ver as montanhas, mas depois disso a paisagem ficou fantástica.
Nesse trajeto, passei pela pior parte do caminho que foi uma subida por ladeiras e degraus por mais de 1 hora. Acho que subi 200m de uma só vez. Cheguei totalmente fadigado.
Foi la em cima que os yaks – aqueles búfalos peludos das montanhas – começaram a aparecer. Também vi um macaco branco e cavalos que pareciam ter saído de filmes medievais.

Yak
Muitas vilas pelo caminho e também só alguns esqueletos de vilas. Muita coisa destruída e também sendo reconstruída. A última parte antes de chegar em Langtang foi cruzar um mar de pedras. Uma trilha feita pelo meio de pedras de diversos tamanhos.
Cheguei em Langtang depois de quase 7 horas de caminhada e minutos depois começou a chover novamente. Estava muito mais cansado que no dia anterior e os efeitos da altitude começaram a fazer efeito.

Langtang
Tive dor de cabeça, meu coração batia rápido e um pouco de falta de ar, tudo causado pela altitude e que pode ser perigoso.
O hotel era um pouco melhor que o anterior, com banheiro na parte interna e chuveiro quente.
Dia 4 – Langtang – Kyanjin Gumba
Distância percorrida – 8km
Altitude – 3430m – 3830m
Tempo – 07h00 – 11h00
Achei que não iria conseguir subir nesse dia. A fadiga era generalizada, o trajeto não era tão grande até o final do trekking, mas qualquer esforço se tornava uma tortura. O planejado era subir apenas 400m nesse dia, até Kyanjin Gumba.
O dia resolveu abrir e agora sim, eu sabia que estava no Himalaia. Diversas montanhas com picos nevados, coisas que você só vê em cartões postais resolveram aparecer. O percurso foi bem mais demorado, pois era o dia ideal para tirar fotos.
O vale também se abria cada vez mais, a vegetação era quase nula e a paisagem parecia se tornar mais bela. A partir dali todo o caminho era dividido em 2: o caminho de ida e o de volta.
Ele era dividido por uma muro de pedra, com inscrições nepalesas. Diz o budismo que é necessário sempre seguir pelo lado esquerdo do caminho para dar sorte.
Sherpas carregando pedras cruzavam pelo caminho. A força deles é absurda. Muitos yaks, que apesar do seu tamanho, são bem medrosos. Todos que cruzavam meu caminho cumprimentavam, assim como muitas vezes eu é que dava o namaste.
A última parte desse terceiro dia de trekking foi um pouco de subida e o corpo já não respondia mais. Alguns templos pelo caminho, caminhos de água formados pelas geleiras e aquele visual de fundo me mostrava que não faltava tanto para o fim.
Enfim, consegui chegar no final do percurso. A última vila desse trekking. A partir dali era possível ir até o acampamento base de Langtang ou seguir um pouco mais o caminho, mas sem subidas. É claro que meu corpo não permitiu eu fazer nenhum dos 2.

Kyanjin Gumba
Pro almoço topei pedir um prato tibetano. Era uma farinha com água, que cozida virava uma massa que tinha gosto de areia. Junto com ela um mix de legumes e curry. De sobremesa pedi um Momo, um prato local, com recheio de chocolate Snickers.

Comida tibetana

Snickers Momo
Tirei o resto da tarde para descansar e dar uma volta pela vila, que era a maior de todas em que havia parado. Uma maratona nas alturas estava para começar, loucura. Diversos atletas tirando fotos e até cheguei a dar uma entrevista para um canal local.
Tomei uma cerveja nas alturas, uma Everest Beer. Tome cuidado quando for abrir uma cerveja nas alturas. Elas explodem igual champanhe.

Cerveja com amendoim

Noite estrelada
No fim da tarde uma nuvem gigante chegou na vila. Mas ela não chegou por cima, já que eu já estava em cima. Ela chegou na minha altura. Sabe aquela vontade de encostar nas nuvens sempre que a gente olha pela janela do avião? Nesse dia foi possível.
Fez uma noite estrelada pela primeira vez no trekking e até tentei tirar algumas fotos das estrelas. Depois disso fui dormir.
Dia 5 – Kyanjin Gumba -Lama Hotel
Distância percorrida – 23km
Altitude – 3830m – 2420m
Tempo – 08h00 – 14h00
Acordei bem mal nesse dia. Os sintomas de fadiga, taquicardia e dificuldades para respirar se agravaram e vi que era hora de descer. Tomei um remédio pra altitude, arrumei minhas coisas e me mandei sozinho. Meu amigo continuou por mais uma noite lá em Kyanjin Gumba.

Bebe sherpa

Familia sherpa
Dei uma melhorada depois que tomei o remédio, desci até Langtang em 01h30, parei, deixei um bilhete para ser entregue a meu amigo assim que ele passasse por lá e continuei o percurso até Lama Hotel. Sim, pulei um trecho, já que estava descendo e seria mais fácil. Com um total de 6 horas de caminhada cheguei em Lama Hotel e fiquei hospedado no mesmo local da ida.
Descansei a tarde toda e só acordei pra jantar. Já senti uma boa melhorada na respiração e no coração. Dormi por mais de 12 horas.
Dia 6 – Lama Hotel – Syabru Besi
Distância percorrida – 15km
Altitude – 2420m – 1503m
Tempo – 08h30 – 15h00
Seria meu último dia de caminhadas. Sai uma pouco mais tarde, por volta das 08h30. Tomei um café preto, comi um pão local com manteiga de yak e me mandei. Quase não bebi água durante minha caminhada e isso fez toda a diferença. Enquanto nos outros dias eu cheguei a tomar de 3 a 4 litros de água, nesse dia tomei apenas 1 litro.

Pão e manteiga de Yak
Também preferi não parar pra almoçar, pois queria chegar logo em Syabru Besi. Isso também fez toda a diferença. Fui parando em algumas partes do caminho para tirar fotos e aproveitar o tempo bom, já que na ida estava tudo encoberto.
Faltando 5km pra chegar à Syabru Besi, o organismo começou a reclamar de desidratação. A fraqueza bateu forte e cheguei bem mal no hotel, dessa vez lá do outro lado do rio, do lado da onde o ônibus pra Kathmandu partia.
Tomei um banho, tomei bastante água e resolvi sair pra comer. Fui melhorando aos poucos. Jantei e fui dormir.
Dia 7 – Syabru Besi – Kathmandu
Viagem de ônibus – 07h15 – 06h15
Acordei pelas 06h00, me arrumei e peguei o ônibus pra Kathmandu às 07h15. De início achei que a viagem seria mais sossegada. Engano meu!
O ônibus parou muito mais vezes do que na ida. Estava um sol forte e o tempo muito seco. Não parava de entrar e sair gente e o trânsito fez o trajeto ser bem mais longo. Foram quase 11 horas de viagem na volta. Existe a opção de ir e voltar de carro 4×4, mas com certeza deve ser muito mais caro.
Pontos positivos x Pontos negativos
Pontos positivos do trekking: a natureza, o ar puro, a mudança do ecossistema gradativamente conforme a altitude vai mudando, o povo sherpa e a experiência de estar em um lugar onde poucos vão, quase no topo do mundo.
Pontos negativos do trekking: falta de treino aeróbico prévio, não ter seguido as recomendações de subir aos poucos, ter levado coisas em excesso na mochila (mesmo eu não tendo levado quase nada).
Considerações finais
Acho que o post ficou um pouco longo, mas quis detalhar bem tudo que passei nesses dias de trekking. Ainda irei fazer posts de como programar seu trekking por conta própria, como tirar a permissão pra trekking, dicas de trekking e quanto custou essa aventura.
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O post ficou incrível, super detalhado. Perfeito pra pegar e fazer o trekking com segurança. Obrigado por compartilhar conosco. Eu terei apenas 15 dias pelo Nepal, se não conseguir fazer o Base Camp, coloquei o Langtang como segunda opção pelo curto tempo de viagem. Gostaria de saber … Em que ponto desse trekking, vc precisa apresentar a documentação aos guarda parques (permissão emitida em Kathmandu) ? Abço,
Fala Marcelo, blz?
Que bom que curtiu o post, ficamos felizes em ajudar…
Eles pedem ainda na estrada pouco antes de chegar na cidade base do trekking. Acho que são 2 pontos de inspeção policial próximos à vila.
Abraços
Ameiii o relato! Parabéns!! Foi top! Sò não entendi o final, tem um final? Mais uma vez… arrasou!
Olá Ana, tudo bem
Tem final sim, cheguei até onde queria, mas acabei voltando um dia antes, já que passei mal por causa da altitude. Mas só foi descer um pouco as montanhas que já melhorei.
Abraços